sábado, 31 de julho de 2021

Dos poemas

E agora, José?
Outro mês passou,
a saudade ficou,
o silêncio surgiu,
o café esfriou,
e agora, José?
e agora, sem você?
você que tem nome,
lembrado por todos,
você que fez versos,
que ama, conversa?
e agora, José?

Está com a mulher,
está com os puros,
está no caminho,
já não há o que sofrer,
já não há porque gritar,
incômodos não há,
(aqui) o sol raiou,
a felicidade não veio,
o conforto não veio,
o riso não veio,
não veio a companhia
e tudo acabou
e tudo submergiu
e tudo desestabilizou
e agora, José?

E agora, José?
Suas doces palavras,
sua presença constante,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
suas peças de ouro,
suas roupas novas,
sua permanência,
seu foco - e agora?

Com os tubos na mão
quis sair pela porta,
não existia porta;
não quis morrer sem ar,
mas o ar acabara;
quis ir para a Quinha,
Quinha não estava mais.
José, e agora?

Se você voltasse,
se você entendesse,
se você tocasse
as músicas de antigamente,
se você surgisse,
se você se comunicasse,
se você aparecesse...
Mas você não aparece,
estamos de luto, José!

Sozinha no escuro
quão bicho-do-mato,
sem referência,
sem destino seguro
para me acobertar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
eu marcho, José!
(-) Minha filha, para onde?


{Porque eu fiquei com teus últimos escritos; e o último, referenciando os três meses passados da ausência, foi uma adaptação de "José". Três meses passaram, eis-me aqui!}

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