sábado, 24 de abril de 2010

Dos quereres

Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock’n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim

domingo, 18 de abril de 2010

Das visões

Ela se entregou por inteiro. Ele disse que fez o mesmo. Ela acreditou.

Ela não tem mais nada que caracterize suas mãos em meio a outras mãos: não há mais pulseira e nem anéis. Ele, agora, tem um diferencial nas mãos, nas duas mãos.

Ela passou mais de 24 horas sem comer. Ele dizia que a fome dela não é como a dele, que ela não aguentaria ficar com a fome que ele ficava. Ela discordou, em silêncio.

Ele se preocupou com a inanição dela, disse que ela estava tremendo. Ela negou. Ele estava certo.

Ele disse que ela não deveria ficar parada. Ela ficou parada.

Ela diz que tem medo de maio. Ele diz que não é para ter. Ela continua tendo medo.

Ela foi além do último pedido dele. Ele disse que a procuraria amanhã e depois e depois e todos os dias da vida dele. Ela acreditou (e permanece esperando, até o final do dia de hoje).

Ela tinha vários planos pro dia de hoje. Ele os tornou inviáveis.

Ela foi embora dando-lhe um beijo de despedida, no rosto, enquanto ele dormia. Ele permaneceu imóvel.

Ela diz que sofre. Ele diz "eu também".

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Dos resumos

O tempo passa muito rápido.
Há pessoas muito vulgares.
O ser humano é muito metamórfico.
Os sentimentos são muito voláteis.
O dinheiro é sempre muito pouco.
As ideias são escassas.
Os sonhos são gigantes.
O amor é indescritível.

As palavras deveriam ter peso.
Os horários deveriam ser cumpridos.
A brutalidade não deveria ser levada a sério.
O homem deveria ter maior proximidade com a Natureza.
músicas que deveriam ser menos ofensivas.
Os hobbies deveriam ser mais ingênuos.

As famílias poderiam ser mais bonitas.
A relação dentro de casa poderia ser mais harmônica.
O contato com pessoas queridas poderiam ser mais diários.
As pessoas poderiam se emocionar mais com as coisas simples.

Menos medo, prepotência, incompreenção, ignorância.
Mais empatia, felicidade, alegria, paz interior, positividade, confiança, sorrisos sinceros.


Eu sou capaz de explanar cada linha do texto acima...
faz tempo que eu quero escrever aqui no blog, faz tempo
que vários pensamentos me vêm à mente, faz tempo que
eles não ganham o mundo...agora que eu tenho a "lista"
pode ser que eu o faça um dia.