sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Da busca (do entendimento e da experiência)

        Era final de 2014, cheguei em casa e vi o vidro, retangular e transparente, tingido parcialmente de amarelo-ouro-envelhecido. Além do susto por ver algo inesperado, fiquei me questionando o porquê daquilo, fiquei tentando entender como que aquele vidro ajudava em algo. Não tive respostas...

        Passados seis anos e meio, me vi com um vidro esverdeado tingido de vermelho. Lá estava eu, de modo prático, naquela experiência. Não foi bom (foi péssimo, em verdade). Eu sabia que estava fazendo do jeito errado, que não iria mesmo funcionar naquelas condições.

        Posteriormente, fiz outra tentativa: dessa vez, usando um vidro transparente tingido de um-transparente-delicadamente-puxado-pra-baunilha-(a flor). Não foi uma experiência ruim, mas eu sabia que ainda não era aquilo; não podia ser aquilo, não justificava, não ajudava quase nada, meio que não valia a pena (na minha cabeça, precisava, realmente, valer a pena).

        Foi só na terceira tentativa, usando um vidro transparente tingido de transparente-brilhante que eu senti a experiência surtindo efeito. Tudo fez sentido, ainda que nada estivesse fazendo sentido. Tudo ficou claro; claro como neve. Era o segundo final de semana de agosto. Embora visse tudo, eu não enxergava nada em meio aquele espaço, agora, cor de neve. Não havia muitos movimentos também: ambientes nevados induzem um estado de recolhimento, de quietude, de apenas estar ali olhando sem sentir. Pronto! Tinha conseguido, tinha entendido, tive a vivência, estive presente naquele momento que só existe uma vez (e que durou o domingo quase todo).

        No fim de semana passado, resolvi testar outro vidro transparente tingido com uma mescla de amarelo-ouro-claro e roxo-jabuticaba. Foi um teste aleatório; eu já supunha que não valeria a pena
: não gostei da experiência (e foi aqui que eu vi que nem sempre precisa valer muito a pena).

        Para esse final de semana, há um vidro azul tingido de transparente.
        Não há mais um objetivo definido.

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Dos traumas das rupturas

Uma cicatriz. Não escuto Lenny Kravitz, Paolo Nutini, Natiruts e Damien Rice com neutralidade. Não gosto de Jack Johnson. Odeio RPG. Não presenteio mais com fotos. Não tenho encantamento por pelúcias. Passo longe da via expressa. Não consigo (te) perdoar integralmente. Ao abraçar alguém, colocando a mão em sua cabeça, sempre me questiono o que sinto por essa pessoa. Parei de comer batata palha.

Não quero conhecer o Peru. Não gosto de cozinhar todo final de semana. Não suporto o som do teclado nas músicas dos anos 80.

Odeio o centro da cidade, principalmente as proximidades da rodoviária. Evito fazer arroz com muito alho, pizza caseira, leite e cookie de aveia. Não escuto AnaVitória, Tiago Iorc, Snatam Kaur, Tiê, Damien Rice e Charlie Brown Jr. com neutralidade. Desativei o "visto por último" e a confirmação de leitura no whatsapp. Tenho palpitações ao passar pelo Bonfim e redondezas.

Não escuto Tiago Iorc, AnaVitória, Damien Rice, Legião Urbana, Tim Bernardes e Caetano Veloso com neutralidade. Lembrei que odeio RPG. Não faço e não compro mais bolo de cenoura. Não programo mais pernoites. Porto Seguro perdeu toda a magia. Não tenho empolgação para filme de terror. Sai do instagram. Odeio o zoom. Tenho pensamentos (pontuais e direcionados) de agressividade. Inaugurei (de fato) meu fígado. Não consigo ouvir o nome do Paulo Gustavo sem ressentimentos.

(Tem mais coisas ...)