quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Do conto

Morrera várias vezes nos últimos tempos. Final de janeiro, abril, maio, agosto, outubro, abril, agosto, outubro, final de novembro. Algumas vezes, morrera apenas uma vez: aos olhos dos outros. Outras, morrera duas vezes: aos olhos dos outros numa primeira instância e aos próprios olhos numa segunda instância.

A morte única não dá espaço para que o renascimento seja observado. É tudo muito rápido, renasce enquanto já se está fisicamente de pé. Há tropeços por acreditar que já se sabe andar perfeitamente. E há quedas porque os olhos ainda não estão plenamente abertos para enxergar.

A morte dupla dói duas vezes, machuca duas vezes e demora muito mais tempo, mas permite observar a preparação para o renascimento. Aqui existe a morte quase que total e, depois, há um feto se mexendo. Todos os fetos são frágeis, mas não devem acreditar ser por causa da bolsa que o envolvem.

A última morte deveria ter sido apenas uma morte, mas transformara-se em duas. Já se vê, da morte lenta, os indícios de renascimento.

Vem, Pequeno Grande Ser, estamos te esperando.

Nenhum comentário: