Eu sempre corri, na esteira, no modo hit. Dava tiros em alta velocidade e descansava poucos segundos. Nunca me entendi como uma pessoa com muito fôlego, sempre achei que era boa nas coisas de alta intensidade.
No início desse ano, colaborando com minha intenção de seguir com mais frequência no caminho do meio, me comprometi a correr numa velocidade menos desconfortável e por um tempo mais elevado. O ciclo é correr na velocidade de 9km/h, descansar 1 minuto em 6km/h sempre que sentir necessidade e concluir a corrida em 15 minutos com pelo menos 2km percorridos.
Ontem, uma das últimas notícias que vi foi da morte de uma mulher. Perdeu o último metrô, estava sem bateria para chamar o uber e -como única solução- foi andando o 1km de distância até sua casa. Foi abordada por um homem a poucos metros do metrô. Foi encontrada morta, com indícios de violência sexual, a 2km do metrô.
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1km até chegar em casa. 10 ou 15 minutinhos de caminhada e foi o suficiente para ser estuprada e morta apenas por ser uma mulher andando na rua (sozinha, sem um macho ao lado que indique que aquele corpo já possui um dono e -unicamente por isso- não deve ser violentado).
Hoje de manhã, sai de casa olhando pra trás com uma frequência bem maior que a comum. Na esteira, passei os primeiros 6 minutos pensando nessa notícia, pensando em como eu fugiria nessa situação. Me veio o pensamento de quanto tempo eu aguentaria correr até cansar e morrer(?!). Já estava nos 8 minutos de esteira (normalmente, é ai que eu descanso 1min em 6km/h) e eu continuei correndo. 10 minutos. 11 minutos. 13 minutos. 15 minutos. 15 minutos e 30 segundos. Parei! Caminhei 30 segundos e sai da esteira.
Minha velocidade média saiu de 8,1km/h para 8,6km/h.
Não há o que comemorar.