quarta-feira, 7 de maio de 2025

Do acolhimento de Preta Velha

Essa é uma mensagem pra você do futuro; embora você já tenha recebido-a agora, falta absorver em sua plenitude. É muito provável que você sofra e se questione o motivo da perda, que procure achar seu erro, sua falha, sua entrega exagerada. Não houve erros. Nem todo mundo sabe lidar, sabe o que fazer, com tanto sentimento. Você já passou por isso ne, minha filha? Deixe ir! Há pessoas que não suportam um Amor inteiro. Algum dia você vai entender, no coração, a razão do afastamento. Deixe ir. Você já está deixando!
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Vai deixar de ser constante, vai passar a ser distante. Será um "pra vida toda" longe, afastado. Acalma teu coração. Aceita. Tua ferida vai cicatrizar e teu sorriso vai voltar, ainda que tenha dor (e terá).
Cada dia doerá um pouco menos. Sim, agora dói um pouco mais a cada dia (mas também dói um pouco menor a cada dia) ... são lugares diferentes! Mente e coração.

Você vai ficar bem e a gente tá aqui pra te amparar e te fazer brilhar com sua luz.
Foca em você, todo o resto é 2o plano.
Deixa livre. Você é livre. A mata é gigante.  


Lembretes:
Sua força
Sua entrega
Sua intuição 
(que já tinha dito isso
de outra maneira)
Axé!

quinta-feira, 24 de abril de 2025

Da corrida (da morte)

Eu sempre corri, na esteira, no modo hit. Dava tiros em alta velocidade e descansava poucos segundos. Nunca me entendi como uma pessoa com muito fôlego, sempre achei que era boa nas coisas de alta intensidade.
No início desse ano, colaborando com minha intenção de seguir com mais frequência no caminho do meio, me comprometi a correr numa velocidade menos desconfortável e por um tempo mais elevado. O ciclo é correr na velocidade de 9km/h, descansar 1 minuto em 6km/h sempre que sentir necessidade e concluir a corrida em 15 minutos com pelo menos 2km percorridos.
Ontem, uma das últimas notícias que vi foi da morte de uma mulher. Perdeu o último metrô, estava sem bateria para chamar o uber e -como única solução- foi andando o 1km de distância até sua casa. Foi abordada por um homem a poucos metros do metrô. Foi encontrada morta, com indícios de violência sexual, a 2km do metrô.
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1km até chegar em casa. 10 ou 15 minutinhos de caminhada e foi o suficiente para ser estuprada e morta apenas por ser uma mulher andando na rua (sozinha, sem um macho ao lado que indique que aquele corpo já possui um dono e -unicamente por isso- não deve ser violentado).
Hoje de manhã, sai de casa olhando pra trás com uma frequência bem maior que a comum. Na esteira, passei os primeiros 6 minutos pensando nessa notícia, pensando em como eu fugiria nessa situação. Me veio o pensamento de quanto tempo eu aguentaria correr até cansar e morrer(?!). Já estava nos 8 minutos de esteira (normalmente, é ai que eu descanso 1min em 6km/h) e eu continuei correndo. 10 minutos. 11 minutos. 13 minutos. 15 minutos. 15 minutos e 30 segundos. Parei! Caminhei 30 segundos e sai da esteira.
Minha velocidade média saiu de 8,1km/h para 8,6km/h.
Não há o que comemorar.

sábado, 7 de dezembro de 2024

Da presença

Como dizer que vi você, sabendo que não era você - mas querendo muito que fosse?
A sua cópia -imagem e semelhança- apareceu, falou com uma criança, falou comigo e falou com a pessoa responsável pelo atendimento. Eu respondi "no mínimo" quando foi falado que ainda se teria pelo menos uns 20 anos ... Só depois percebi que não foi uma resposta dada por educação: era um desejo, impossível de realizar. A pessoa responsável me sugeriu subir para assistir a palestra e, então, eu vi de novo: na entrada do salão e, depois, encerrando a 1ª palestra. Chorei tanto que apareceu alguém perguntando se eu estava bem! Durante a 2ª palestra, eu apenas senti sua presença atrás de mim; era quase como se estivesse me guardando!
O abraço que eu não pude te dar, eu dei hoje! Eu sei que não era você (ninguém é!) mas, naquele momento, foi. Naquele momento só existiu a saudade, o choro, o acolhimento e um abraço fraternalmente correspondido. Existiram palavras bonitas também e uma risada que embora não fosse a sua, eu recebi como sendo.
Que você esteja sorrindo dai também.

segunda-feira, 29 de abril de 2024

De onde há vida


Hoje é mais um ciclo que se completa. 1, 2, 3 e contando... Suas irmãs e seu filho mais velho não deixam ninguém esquecer da data de hoje. Não que seja preciso, não que seja possível esquecer; mas é que pra mim tem dias - absurdamente aleatórios - que o sentimento vem absurdamente mais forte e todas as vontades vêm absurdamente com mais intensidade. Todas as mesmas de quando tudo aconteceu! Hoje te convidei pra comer um cuscuz com manteiga no café da manhã! O café com leite era só pra mim mesmo: você dizia que beber café ia te deixar mais preto☺ As lentilhas ainda estão de molho; optei por cuidar das plantinhas ao invés de fazê-las. Mexer na terra, sentir a vida de alguma forma. Também segui o ritual de ouvir Nelson e Joanna; dessa vez, acrescido de velas e incensos (azuis).
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Um dia inanimado

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Da não linearidade

Há quase 3 anos, eu escrevi que nada resolvia, que nada bastava, nada qualquer_coisa. "A dor do luto não é linear", todos me disseram. Em um dia, você só quer morrer também e no outro dia você acorda agradecendo que está viva e querendo fazer todas as coisas possíveis de serem feitas enquanto há vida. Basta o final de uma série pro choro voltar, pra ausência se fazer presente, pra tentar vários subterfúgios que desfoque a dor. Incenso não resolve, vela com aroma não resolve, café com leite não resolve, não acalmam nem a alma e nem o coração. O choro começa e para do nada. A vida também.
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(texto interrompido porque
ele também não resolve)

domingo, 14 de abril de 2024

Do mosaico

        Foi lá em 2021 que, mais uma vez, meu coração foi dilacerado no âmbito do amor romântico. Eu já estava quase que totalmente dilacerada antes, é verdade. A ruptura foi o golpe final, o tiro no peito em quem já estava com o corpo todo baleado. Ali, eu já sabia que nunca mais iria me reerguer novamente; não pelo golpe final, mas pelo golpe da vida mesmo (ou: pelo golpe da morte, sendo mais coerente).
        Eu sabia que nada, nunca mais, iria ter tanto brilho como antes; que nada, nunca mais, pulsaria em plenitude como antes; nada, nunca mais.
        Foi durante um banho, pós mentoria de 4a feira, que eu senti. Dentro de um abraço apertado, como quem tenta encaixar todas as minhas partes quebradas; numa respiração profunda, como quem tenta oxigenar para revigorar; num choro discreto, de quem tomou consciência do que sentiu.
        Tudo foi acontecendo tão calmamente, de modo tão orgânico, que eu não me surpreendi com o que senti e admirei cada parte dessa construção: cada piada com os carinhos com as pseudo-raivas com os memes com as músicas com os elogios com os "hoje não dá" com os "tá confirmado hoje?" com os "quando você pode?" com as gargalhadas com os presentes com as curiosidades não saciadas com as batatas não comidas com as batatas comidas com os prazeres extremos com o banco de 5 metros com o banco de 2 metros com o banco sem distância com os olhos brilhando com o gato amigo com a aposta ganha com as fotos das viagens com  ... tudo isso que estamos vivenciando.
        Você já entendeu? Eu amo você!

segunda-feira, 4 de março de 2024

Da década encerrada

Dez anos, cinco meses e dois dias